domingo, 1 de julho de 2012

There was an Old Man of Dumbree






"Havia um Velho Senhor do Canadá,
 Que ensinava corujinhas a tomarem chá;
A elas dizia, "Comer rato
 Não é certo e nem um barato,"
 Aquele amável Senhor do Canadá"

domingo, 18 de março de 2012

Os limeriques de Edward Lear


Sem passar em revista toda a biografia de Edward Lear (1812-1888), deve-se dizer apenas dizer que ele não é o criador dessa forma poética. Curiosamente, também nunca usou o termo limerick em seus livros. No entanto, é a grande referência do gênero, responsável por sua popularização ao redor do mundo. Lear não mexou na estrutura rígida do limerick, o que teria acrescentado ao gênero para ter ganho tanta fama? Sem dúvida o sucesso de seus poemas está na ironia refinada e no modo como concebeu um universo absurdo e charmoso, habitado por pessoas mais que peculiares. Pessoas com atos ou características inesperadas, que causam estranhamento, mas não tanto. Um absurdo cantado com delicadeza e calma, que o leitor aceita como humano, natural, como se dele fizesse parte.  

"There was an Old Man of Moldavia,
Who had the most curious behaviour;
For while he was able,
He slept on a table.
That funny Old Man of Moldavia."

212 no total, todos os limeriques se assemelham à medida que apresentam uma personagem e uma ação, funcionando como um miniconto. Na maioria deles, o personagem possui um hábito estranho, como no exemplo acima, que não possui qualquer explicação lógica, ou então uma característica física incomum, que leva a um comportamento absurdo:

"There was a Young Lady whose nose
Was so long that it reached to her toes;
So she hired an Old Lady,
Whose conduct was steady,
To carry that wonderful nose."

Antes de ser escritor, Lear foi pintor, desenhista de paisagens e pássaros (para ilustração de trabalhos de ornitólogos). E ele trouxe essa sua habilidade para os limericks, uma vez que criou uma ilustração para cada um. São desenhos tão irônicos e divertidos quanto os textos, que dialogam de tal forma com eles, que muitas vezes a impressão é de que os limericks não podem ser publicados sozinhos (como fiz ali em cima, por exemplo). Aqui, temos um bom exemplo disso:



"There was an Old Man who said, "How 
Shall I flee from this horrible Cow? 
I will sit on this stile,

And continue to smile, 
Which may soften the heart of that Cow."

Mais do que ilustrar a cena, o que constituiria redundância, os desenhos aumentam a carga de humor do poema, uma vez que também são irônicos e bizarros a seu modo. Nesses textos, não há intenção: o próprio Lear declarou que o único objetivo deles era ser nonsense. Não há entrelinhas, ele não quis dizer nada. No entanto, muitas coisas podem ser discutidas a partir da leitura dos limeriques. De algum modo, todos os seus limeriques carregam dentro de si atitudes e indagações humanas, relacionadas a medos, paranóias, desejos. A partir do momento em que apresenta atitudes absurdas, Lear nos confronta com as atitudes esperadas para aquelas situações, levando-nos a repensar nossas rotinas, nossos modos, nossa humanidade. Assim, ler Edward Lear é refletir sobre o que o ser humano tem de óbvio e tolo. E fazer isso rindo:



                                                    "There was an Old Man of the Nile,
                                                     Who sharpened his nails with a file,
                                                     Till he cut off his thumbs, 
                                                     And said calmly, "This comes
                                                     Of sharpening one's nails with a file!" 


sábado, 18 de fevereiro de 2012

Limeriques com sabor brasileiro


Lançada pela Demônio Negro, essa editora miúda que publica uns monstros pouco lidos, de sousândrade a juan brossa, "Minima Immoralia - Dirty Limerix" é uma coleção de limericks traduzidos e reescritos por Luiz Roberto Guedes. De uma infinidade de limericks anônimos escritos em inglês, Guedes traduziu alguns deles de forma bem livre, alterando os versos em nome da rima e do humor. O resultado é uma série de limericks com um pé na inglaterra e outro no brasil, todos universais, até porque a escatologia e a obscenidade, que estão presentes em todos esses poemas, estão em todo lugar:

Uma cachopa lisboeta
Nasceu com um par de bucetas.
E diz, sem vergonha,
Com o quê ela sonha:
"Um macho com duas cacetas".


São limericks imorais, desbocados e despreocupados, tanto na forma (Guedes não utiliza todas as tradicionais regras métricas) como na temática. Como todo bom fazedor de limeriques fesceninos, tá cagando e andando para quem vai ler:

Vem aí o Viagra futuro:
Em líquido. Se não der furo,
Logo os coroas
Dirão às patroas:
"Meu bem, me serve um pau-duro?"


Os estudos de Gershon Legman, um dos maiores especialistas em limericks, apontam que os limericks sujos, obscenos e escatológicos, começam a se multiplicar a partir do começo/meio do século XIX. Antes disso - e o limerick nasceu vários séculos antes disso, era sóbrio e sério como lembra Glauco Mattoso. Não foram limericks assim que consagraram Edward Lear, o autor mais famoso desse tipo de poema. Por isso, podemos até fazer uma divisão do limerick, como se houvesse dois jeitos de fazê-lo: o sujo, provocador e sarcástico; e o limpo, o leariano, marcado pela ironia fina e pela discrição. Tratam de mundos diferentes, e ambos agradam (ou desagradam) a seu modo:

Ao chá, a duquesa Edvígia
M'indagou: "Tu peida quando mija?"
Com garbo, fui à carga:
"Tu arrota quando caga?"
E senti que ganhei essa rixa.


Três nomes se destacam na produção de limeriques brasileiros: Bráulio Tavares, considerado o pioneiro, Glauco Mattoso e o Luiz Roberto Guedes (há ainda os autores de limeriques infantojuvenis, mas isso eu gostaria de separar, e tratar noutro post). E o "Dirty" é o único livro que conheço que seja apenas de limericks, por isso discordo de quem afirma que o limerick é uma forma tão conhecida como o haikai. Creio que por tratar de temas tabus, de picas e xanas, o limerick consegue ser uma forma poética super simpática, mas pouco divulgada por aqui.
Senhoras e senhores, limeriquemos.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

"making toast at the fireside,
 Nurse fell in the grate and died. 
And, what makes it ten times worse,
 all the toast was burned with Nurse"


Col. D Streamer


In: A Nonsense Anthology, Collected by Caroyn Wells

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Limerick é sempre nonsense?

A Roberta Bittencourt, essa loira oxigenada, fez uma crítica muito interessante sobre o limerick que aparece no último post. Na verdade, não é nada interessante, mas é oportuna, uma boa ocasião para observar que nem todo limerick faz uso do nonsense. (Na verdade isso está subentendido no post anterior, né Roberta). O nonsense é apenas um dos traços do humor inglês, e ele encontrou no limerick uma forma ideal para se manifestar. Mas é claro que o limerique não é obrigatoriamente nonsense (embora eu pense que os melhores exemplares o são). Tem-se essa impressão devido à influência do sucesso de Edward Lear, o autor mais famoso desse tipo de poema, que abusou da comicidade do absurdo em seus limeriques. À Lear se deve a popularização dessa forma ao redor de mundo, influenciando autores de outros países que viriam a ganhar fama com esses poemas, como Tatiana Belinky no Brasil, Gianni Rodari na Itália ou María Elena Walsh na Argentina.

O limerick inglês celebra o absurdo, o inoportuno, o boçal, o sarcástico, o ridículo, qualquer coisa que não seja o esperado:

"There was a young fellow from Clyde
Who once at a funeral was spied.
When Asked who was dead,
He smilingly said,
"I don't know. I just come for the ride"

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Voltando ao comentário da Roberta, é bem possível abrir alguns caminhos para o trabalho com limerick em sala de aula. Pode-se optar por reaproveitar o consagrado modelo leariano, de fácil assimilação [favor não confundir com fácil execução], e que funciona quase como um miniconto:

"There was an Old Man of Cape Horn,
Who wished he had never been born;
So he sat on a chair,
Till he died of dispair,
That dolorous Man of Cope Horn."

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Ou quem sabe, numa outra proposta bem mais aberta e, a meu ver, mais difícil, tem-se a ideia de trabalhar com "limericks desagradáveis": poemas que debochem, falem mal de pessoas, coisas ou lugares, ou então poemas que apresentem situações ousadas, estranhas, rídiculas.
que tal seguir a pista de Luiz Roberto Guedes? [mais adiante, falarei mais sobre ele]:

"Um perfumista argentino
Tinha o olfato tão fino,
Que distinguia o cheiro
De um peido de lixeiro
De um leve pum feminino"

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e aí?

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O que é um limerick?

Limerick é uma forma poética, originária da língua inglesa. Muitas são as suposições acerca da época e o local de criação desse tipo de poema, mas é certo que seu desenvolvimento principal ocorreu no seio das culturas irlandesas e inglesas, pois é nessas culturas que o limerick ganha status de folclore, obras-símbolos das culturas populares desses países

O limerick pode ser descrito como um gênero poético-humorístico, visto é que sempre um poema em versos, que obedece certa estrutura fixa, ao mesmo tempo que possui o fim de fazer humor. O limerick faz troça, ironiza, conta um causo bizarro, sempre com a intenção de fazer sorrir. É essencialmente uma anedota em verso, diz Baring-Gould.

Aqui, um exemplo de limerick de autoria anônima:

"There once was and old man of Esser
Whose knowledge grew lesser and lesser,
It as last grew so small
He knew nothing at all,
And now he's a college professor"


O sucesso do limerick nas culturas de língua inglesa reside provavelmente na sintonia entre a língua e principalmente o humor inglês (que vai da ironia polida ao nonsense escrachado) e a estrutura do limerick.
O poema sempre possui cinco linhas e apresenta um esquema rímico do tipo A-A-B-B-A.
Há também regras quanto às sílabas poéticas.
Mais adiante, teceremos mais considerações acerca da estrutura, dada sua importância para esse trabalho.

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Para consulta sobre as possíveis origens do limerique: The Lure of Limerick, de William S. Baring-Gould.

Este blog

A intenção deste blog é divulgar o limerique, forma poética originária da cultura inglesa, frequentemente marcada pelo nonsense. Espero também apresentar propostas para o uso do limerique nas aulas de Língua Portuguesa e Língua Inglesa.